Recém lançada no Brasil, a marca francesa de perfumaria de nicho Atelier des Ors, mantém-se fiel a sua proposta de perfumaria artesanal e independência, em um momento em que o mercado de perfumaria de nicho bomba no mundo atraindo muito dinheiro e holofotes de grandes empresas, lojistas e consumidores. Globalmente, a marca está presente em menos de 500 portas exclusivas e selecionadas e não tem planos de expandir sua rede rapidamente, para não perder a essência de uma experiência de slow perfumery, na qual a proposta é de explicar o produto, borrifar, deixar a cliente ir até que ela esteja certa de que aquele perfume é realmente o que ela procura. Na mesma linha, a empresa fundada em 2015, ao invés de investir em algumas lojas próprias em cidades chave para esse mercado como Paris ou Londres, preferiu investir recursos na reforma da Villa Primerose, um prédio histórico em Grasse, do final do século XIX e que hoje serve de sede para a empresa, que tem como marca, a presença de micropartículas de ouro em seus perfumes. De passagem pelo Brasil, o fundador da marca, Jean-Philippe Clermont conversou com exclusividade com a reportagem de Atualidade Cosmética.
Desde a última década, vivemos um boom da perfumaria com muito destaque para a perfumaria de nicho e de alto luxo, o que levou muitos dos grandes grupos do setor a comprar marcas de perfumaria de nicho independentes para lhes dar escala e robustez. Como isso afeta o seu negócio? É algo bom para o mercado, ou uma competição ruim?
Quando Gabrielle Chanel entrou no negócio de perfumes, muito tempo atrás, era algo extremamente nichado, apenas alguns pontos de venda selecionados. Depois ela se expandiu internacionalmente, década após década até se converter na potência global que é hoje, disponível em qualquer país do mundo. Penso que esse é o ciclo de vida natural do produto, caso o dono da marca queira seguir nessa direção.
Como você disse, os grandes grupos começaram a investir em ampliar sua oferta de marcas de nicho e tem investido para crescer a escala desses negócios. Não vejo isso de forma negativa. Se eles estão olhando para ampliar a distribuição para um número bem maior de pontos e buscando falar com uma audiência global, penso que esses investimentos estão colocando os holofotes sobre a perfumaria de nicho, a perfumaria artesanal e isso é bom para nós. Porque 20 anos atrás, apenas algumas pessoas estavam a par do que estava acontecendo, poucos sabiam que existiam marcas que poderiam ser alternativas às marcas mais comerciais. Sob esses holofotes, temos tido a oportunidade de contatarmos compradores de varejo e distribuidores em todo o mundo. No nosso caso, queremos crescer a passos lentos. Não precisamos estar disponíveis em todas as perfumarias, em todos os mercados, vamos um passo por vez e assim nos mantemos focados no processo criativo. Preferimos manter uma rede pequena e muito bem seletiva e exclusiva de lojistas, mas definitivamente, os investimentos no mercado de nicho por esses grandes grupos, nos ajudou a crescer. Nós não o vemos como competidores e não vemos como negativo.
Você vê espaço para as marcas verdadeiramente independentes avançarem?
Trabalhamos com uma rede tão seletiva e restrita de lojistas pelo mundo que muitos deles não vendem essas marcas. Em geral, também são lojas independentes, que não estão atualmente vendendo essas grandes marcas de grandes grupos. Vemos espaço aí e estamos muito felizes em seguir com essa rede alternativa de lojistas, porque em termos de qualidade, em termos de atendimento e consultoria para o consumidor, eles se esmeram. É uma slow perfumery, leva tempo para explicar, fazem a experimentação para o consumidor voltar só depois de descobrir a fragrância em sua plenitude. Eles entendem esse processo longo e isso tem o match perfeito com a nossa filosofia.
Não é um perfume para ser vendido em grandes varejistas como Selfridges ou Galeries Lafayette (grandes lojas de departamento europeias) nesse sentido da slow perfumery, que demanda tempo para apreciar?
Sim, mas nós também vendemos em lojas de departamento. Nos EUA estamos na Bergdorf Goodman, que atua com muito qualidade no atendimento de beleza, conhecem a marca muito bem e a valorizam. É uma questão de balanço em termos de onde você quer ser vendido, a expectativa dos parceiros que se tem localmente e o que você quer alcançar como meta.
Vocês têm metas para o médio e o longo prazo em termos de abertura de portas?
É uma coisa mercado a mercado, visitamos discutimos com os parceiros locais o que faz sentido em cada país, o que eles querem atingir… Depende muito do mercado e da sua capacidade do mercado de absorver essa perfumaria. não temos restrição do número de portas, é mais uma avaliação qualitativa de quando e onde estar disponível. Nós só vamos a portas que tenham um staff qualificado,
A marca está disponível para receber investimentos, dado o aquecimento do mercado de nicho?
É verdade que esse é um negócio que está em alta e temos percebido muito interesse de investidores no segmento. Mas não estou aberto para esse tipo de investimento. Temos crescido de forma sustentável e saudável, somos lucrativos e assim conseguimos nos financiar e manter a nossa independência.Gerenciamos o crescimento, os projetos e isso nos dá a liberdade de seguir fazendo negócios e criando o que queremos criar, selecionando os projetos que queremos desenvolver. E de novo, não precisamos de mais investimentos. Temos caixa suficiente para seguir com as nossas próprias pernas.
Quais os principais mercados da marca hoje?
Temos um mercado muito forte no Oriente Médio, em especial na Arábia Saudita, no Kuwait também. Estamos desenvolvendo a Índia e na Europa, já somos fortes na França e no Reino Unido, além de termos um mercado muito promissor nos Estados Unidos, que hoje, já disputa com a Arábia Saudita, ombro a ombro, a posição de número um em vendas para nós.