Há alguns anos, mais de uma década atrás, a era dos blogs revolucionou a forma de alcançar as pessoas em diversas áreas, incluindo também o setor de beleza. E, nele, o segmento de maquiagens. Os blogs ainda fazem a diferença hoje, sem dúvidas. E somado à força das blogueiras, figuram os diversos canais usados por influenciadoras, como plataformas de vídeos e redes sociais. As marcas entendem esse cenário e criam estratégias que se aliam a esses influenciadores e blogueiros, e tudo isso é positivo para todos, do fabricante ao consumidor. Pelo menos na visão de Andy Rodrigues, maquiador, micropigmentador e influenciador de Porto Alegre, que atua no mercado de maquiagem há quase 15 anos.
Andy lembra de quando iniciou neste mercado. "A gente combinava a sombra com a cor da roupa, esse era o mood, a galera pedia muito... as pessoas pouco se maquiavam, principalmente quando precisavam economizar... elas iam ao salão fazer o cabelo, mas se maquiavam em casa, de forma simples", diz.
O maquiador ressalta que, com o desenvolvimento e o crescimento das redes sociais, dos blogs, essa história foi mudando. "Esse mercado foi se moldando, sim, devido às blogueiras, que popularizaram o uso da maquiagem e democratizaram mais a maquiagem, mostrando que qualquer mulher poderia, sim, se maquiar, não precisaria só ser uma noiva ou aparecer uma festa... e tudo mais", diz.
Andy destaca também que quando isso começou a acontecer com mais força, ele viu o seu trabalho deslanchar, ter uma virada para uma onda mais promissora. "As pessoas começaram a procurar mais o salão também para se maquiar, não apenas para fazer o cabelo", conta.
Essa alta na internet, segundo Andy, impulsionou o serviço de maquiagem e também a profissão de maquiador. Ele conta que, antigamente, ter um maquiador era uma coisa de gente da classe AA. Era coisa tida como luxo, algo muito caro. "De certa forma, depois dessa popularização pela internet, a gente viu que as pessoas enxergaram que era possível ter um maquiador, seja para eventos especiais ou qualquer ocasião que pessoa quisesse se sentir melhor... que fosse bom para a autoestima".
Nesse contexto geral da maquiagem, o mercado nacional não tinha olhos para o seu próprio público, segundo Andy. "Há 15 anos, as marcas não investiam tanto em qualidade e performance dos seus produtos de maquiagem, tinham itens mais básicos, mas de uns tempos para cá rolou um lance como: ‘opa, vamos acordar’", diz.
O maquiador explica que o mercado começou a enxergar mais, principalmente pelo fato do que as blogueiras vinham entregando, então as marcas começaram a se associar a elas. "Isso para aproveitar o público delas, além da legitimidade da influenciadora", afirma. Andy diz que a consumidora também passou a se importar com a legitimidade de quem a influencia. "No meu caso tenho um diferencial, não sou apenas um influenciador que fala de maquiagem, sou um maquiador que também é influenciador", diz.
Andy acrescenta ainda que a internet hoje em dia tem muita informação e que as pessoas "facilmente se perdem", mas as marcas precisam contar com profissionais que falem dos seus produtos. "Dando dicas, explicando como os itens devem ser usados, oferendo truques de como fazer melhor, opinando... isso catapulta muito mais produto de uma forma mais confiável", afirma o profissional.
Quanto à inclusão na maquiagem, Andy acredita que no Brasil o mercado está evoluindo bem, embora ainda haja um longo caminho pela frente. Na questão da maquiagem masculina, o maquiador não considera que a indústria vai focar nisso. "Porque o discurso vai ser sempre ‘maquiagens é para todos’", explica. "Algo exclusivo para pele masculina seria uma coisa até como voltar um passo atrás, porque hoje batemos muito na tecla de que a maquiagem não tem gênero", diz.
O maquiador, porém, entende que alguns aspectos podem ser peculiares quanto ao público masculino no segmento de maquiagens e devem ser notados. "O que pode ter falta, na minha visão, e que pode ser a diferença, é mais informação de fato, além da questão da preparação da pele para a maquiagem, que vai ser diferente para os homens", diz. Andy explica que a pele masculina é mais oleosa, mais acneica, tem suor normalmente mais pesado, mais ácido, mais forte, que pode fazer derreter a maquiagem. "A maquiagem à prova d’água, por exemplo, não necessariamente vai ser à prova de suor", ilustra.
Andy alerta que o caminho mais adequado talvez seja falar maquiagem para todos. Outro aspecto relevante, segundo o maquiador, é a necessidade de se ver mais homens em campanhas. "Vemos muito isso em Dolce & Gabana Beauty, usando muitos homens como garoto propaganda... creio que isso possa ter acontecido porque a marca é conhecidamente cancelada por ser transfóbica, homofóbica e tudo mais... acho que lançar Dolce & Gabbana Beauty desde o início já destacando que era uma marca gentleless foi excelente, desde o início veio como um pilar da marca, assim como a M.A.C fez 40 anos atrás. A gente tem muita campanha com homem maquiado...".
O dos desafios da maquiagem, tanto em fabricação, portfólio e até mesmo distribuição, é equilibrar a quantidade de skus. Afinal, quão grande ou pequeno deve ser um portfólio? Como atender à variedade de necessidades das consumidoras?
Na visão de Andy, a indústria internacional já está muito à frente nisso e por um motivo. "No Brasil, é muito caro desenvolver produto, as empresas iniciantes, menores, não têm poder de investir em tantos tons. Você tem que ter uma tiragem alta de dezenas de milhares de itens por cor... imagina o quanto isso vai custar, imagina como Rhianna fez, 40 tons de base logo de saída... é muita coisa", diz.
Entretanto, Andy acredita que o mercado nacional está mais focado nessa questão da diversidade. "Nós, inclusive, temos marcas nacionais que são específicas para pele preta, que nem têm (itens disponíveis) tons de pele mais clara...são realmente focadas em peles mais escuras...".
Andy ressalta que o mercado abriu os olhos para isso. "Temos influenciadoras incríveis que só tratam de maquiagem para pele preta, sobre protetor solar para pele preta etc, fico muito feliz com isso, estamos muito melhor do que nós já fomos no passado, mas claro que aqui no Brasil ainda temos muito o que caminhar nesse sentido", afirma.
Como levar a maquiagem a um patamar de algo leve e divertido e, ao mesmo tempo, ensinar as pessoas a fazerem melhor. Para Andy, primeiro de tudo é preciso incentivar a liberdade criativa das pessoas. "Isso para elas se sentirem livres para se maquiarem", diz. Depois, segundo o maquiador, é essencial oferecer informação e gerar conhecimento. "Também é muito importante dar dicas e ensinar técnicas que podem valorizar o rosto da pessoa", diz.
Outra questão que não pode ficar de fora, Andy destaca, é simplificar. "Precisamos facilitar a vida da mulher, principalmente para mulher moderna, que faz muitas coisas ao mesmo tempo e não tem tanto tempo disponível. Temos que mostrar que os produtos são mais versáteis e práticos e mostrar que criar o hábito de se maquiar é algo que a cada dia vai fazer com que elas sejam mais rápidas e melhores".
Outra oportunidade que pode fortalecer o segmento de maquiagens, na opinião do profissional, é a maquiagem artística. Uma área potencializa principalmente pelas festas e eventos sazonais. Festas como o Halloween, festas à fantasia, eventos temáticos em geral e não apenas carnaval.
"Essa pode ser uma porta de entrada para as pessoas brincarem mais e entenderem quanto a maquiagem pode ser uma arte, uma forma de expressão", afirma o maquiador. Segundo ele, as marcas nacionais estão de olho nessa oportunidade. "Temos duas ou três marcas nacionais que cresceram muito e desenvolveram linhas grandes para maquiagem artística e nós temos profissionais e especialistas incríveis também, que não perdem nada para os lá de fora", diz.
Quem sabe as marcas também desenvolvam ainda os seus portfólios mirando o mercado da maquiagem artística. Será que esse pode ser um segmento promissor no país?